quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Coisas que a gente não espera quando tem 15 anos

No dia 25 de agosto celebrei meu 25º aniversário. E confesso que fiquei assustada. Não, não me acho velha, mas acho sim que o tempo está passando mais rápido. Há 10 anos eu completava meus 15 anos. Parece que foi ontem! Papo de velha, confesso, mas parece mesmo que foi. Ah, eu tinha tantos sonhos...

Com 15 anos eu já queria viajar para fora do país. Não tinha medo ou estava insegura, mas tinha pais que se questionavam se eu estava mesmo preparada para esta experiência e principalmente, se um investimento tão alto valeria a pena. Não me deixaram ir. E eu chorei...

Chorei porque sabia o que eu queria, por não confiarem em mim e por depender da permissão e do dinheiro dos outros para realizar meu sonho. Foquei no vestibular, passei na Universidade Estadual de Maringá, mudei de cidade, mas ainda tinha esta vontade reprimida.

Depois de 2 anos morando sem meus pais, finalmente consegui convencê-los de que estava pronta para viver esta experiência. Fui para os EUA, para a cidade de Norfolk (Virgínia), participar de um programa chamado Work and Travel. Basicamente, fui contratada para trabalhar no caixa de um restaurante americano e nas horas livres poderia viajar. A vantagem é que eu estaria inserida na cultura do lugar, não teria apenas o ponto de vista de um turista, aperfeiçoaria meu inglês e de bônus seria paga em dólar.

Ah, como na teoria tudo é lindo! Na prática eu fui morar em um lugar que fazia muito frio, em um bairro negro em uma cidade na qual o racismo existe. Morei com muita gente fresca e mimada e com algumas pessoas incríveis que tenho contato até hoje.  Não sabia o que era dime (moeda de 10 centavos) ou quarter (moeda de 25 centavos) e mesmo assim me colocaram pra tomar conta do caixa. Não sabia que seria tão difícil passar um Natal sem minha família ou que me emocionaria tanto quando assistisse a um musical da Broadway. Não sabia que conseguiria trabalhar 14 horas por dia em pé e nem que com este dinheiro conseguiria pagar minhas próprias viagens, minhas contas fixas nos EUA, fazer compras e reembolsar meu pai todo o valor que ele havia investido. É impossível definir o quão gratificante foi, mas felizmente ou não, viajar vicia e não me contentei só com esta vez.

Voltei ao Brasil, consegui meu primeiro emprego, justamente, em uma agência de intercâmbio e todo mês depositava na poupança 50% do meu salário, já pensando no próximo destino. Passei 12 meses da minha vida tentando convencer meus clientes do quão bom era viajar. Proferi tanto o mesmo discurso que me convenci de que era maravilhoso mesmo. Me dei conta de que precisava viajar novamente, já não me sentia feliz sentada atrás de um computador conhecendo o mundo através do que os outros diziam. Eu queria ir para a Europa e confirmar com minhas próprias experiências se era tudo aquilo mesmo que falavam. Peguei minhas economias e desta vez, sem a ajuda financeira dos meus pais, paguei minha primeira viagem. Escolhi o programa de intercâmbio que era compatível ao valor que eu tinha economizado: fui ser au pair na Holanda.

Pra quem não sabe, no programa de au pair você mora com uma família, não paga alimentação ou moradia, ganha um salário mensal e ainda recebe uma bolsa de estudos para fazer um curso de idiomas. Em troca, você toma conta dos filhos da família por uma carga horária pré-determinada*. Como gosto de crianças, achei super conveniente.

Morei durante um ano em uma cidadezinha no sul da Holanda. Foi lá que me encantei por duas crianças holandesas que me fizeram perceber que eu realmente tinha virado adulta, mas que também me ajudaram a resgatar meu lado infantil. Também foi durante este período em que eu viajei 18 países europeus. E eu finalmente pude comprovar que Paris é mesmo apaixonante, que a comida italiana é realmente uma delícia, que a chuva constante de Londres pode danificar sua máquina fotográfica, que o reveillon em Barcelona com as melhores amigas pode ser inesquecível, que as ilhas gregas são mágicas, que o banho turco é constrangedor, que os chocolates belgas são os melhores do mundo, que Budapeste tem as melhores baladas ou que Praga  tem as melhores cervejas.

Voltei ao Brasil realizada! Arrumei um emprego em São Paulo, novamente em uma agência de Intercâmbio e por lá fiquei 2 anos. Fui ao Canadá representando esta mesma empresa, estava cursando jornalismo (o curso que eu sempre quis fazer), tinha acabado de ganhar uma viagem a Nova York (mérito de uma campanha de venda que a empresa propôs e que eu me dediquei durante 6 meses para conseguir) e ganhando um salário suficiente para pagar sozinha minhas contas, minha faculdade, meus luxos rs e algumas viagens pela América do Sul.

Não tinha motivos para reclamar. Estava satisfeita com minha rotina. Até que um amigo que estava morando na Índia, me perguntou se eu também não queria viver durante 1 ano em Mumbai. Eles me contratariam como trainee em uma Multinacional para trabalhar na área de marketing/comunicação e desenvolvimento de negócios.

Eu poderia ter ignorado aquela proposta e continuado na minha zona de conforto. Eu não tinha razões para mudar, mas algo dentro de mim dizia que eu deveria tentar. Fiquei uma semana sem conseguir dormir. Sabia que aquela experiência, agora na Ásia, me ajudaria a entender o mundo através de uma nova perspectiva, mas fora isso, não sabia exatamente o que ganharia. Em compensação, eu sabia perfeitamente tudo o que eu "perderia" (perderia, inclusive, a viagem à NY)...

...Mais de um ano se passou desde que passei naquela entrevista de emprego e decidi me mudar para a Índia. A ideia era ficar apenas 12 meses, duração do contrato de trainee, voltar ao Brasil para terminar meu curso e arrumar outro emprego. Porém, durante este tempo aqui o que mais aprendi foi justamente que não podemos controlar o futuro. A gente pode sim planejar, estabelecer metas, mas quando já temos nosso futuro todo idealizado, quando menos esperamos, lá vem aquele monstrinho chamado imprevisto e muda nosso rumo, quebrando ou superando nossas expectativas. Afinal, cabe a cada um de nós enfrenta-lo como uma oportunidade ou como um obstáculo.

Nestes últimos meses na Índia, aprendi a valorizar o presente e a lidar melhor com fatos inesperados. Quando me mudei para a Índia não imaginei que fosse morar com tanta gente interessante, que me irritaria tanto com a desorganização, que seria contratada pra fazer trabalhos extras só porque eu sou estrangeira e nem que aprenderia a gostar de academia. Não imaginava que um dia eu iria à Caxemira, que pularia de bungee jump no Nepal, que comeria insetos na Tailândia ou que um elefante me daria banho. Não esperava que meu irmão viesse até aqui só para me visitar e que ele me acharia tão louca por gostar de um país tão sujo. Não pensei que eu fosse me adaptar tão fácil, que eu gostaria tanto da comida, muito menos que minha empresa indiana me pediria pra renovar o contrato e ficar um pouco mais.

Não, não estava no script que eu aceitaria ficar mais alguns meses, que teria que ir ao Brasil pra renovar meu visto e como bônus do destino poderia matar a saudade da minha família e amigos passando meu aniversário ao lado deles. Para completar, devido a uma conexão demorada, não esperava que fosse dar tempo de sair do aeroporto de Johanesburgo, na África do Sul, visitar o Lion Park, ver os bebês leões,  alimentar uma girafa ou conhecer a casa do Nelson Mandela. Tudo isso em menos de 7 horas. Enquanto os outros passageiros, que tiveram a mesma "oportunidade", ficaram no aeroporto usando a internet aguardando o próximo voo.

E quando você acha que não falta acontecer mais nada de surpreendente, eu que não acreditava em conto de fadas, nunca imaginei que eu fosse me apaixonar por um indiano e que estaria disposta a recalcular toda minha vida, só porque inesperadamente o amor cruzou meu caminho...

É, com 15 anos, eu realmente não esperava que tudo isso fosse acontecer. Mas acho que com 25, mais do que ainda conseguir sonhar, a gente ganha autonomia para transformar os sonhos em metas e aprende a colocá-las em prática. Sim, eu ainda insisto teimosamente em continuar planejando os meus próximos passos, mas na certeza de que a qualquer momento tudo pode mudar, porque este monstrinho do imprevisto não cansa de aparecer na minha vida. Ainda bem!


* As horas trabalhadas e os benefícios oferecidos no programa Au Pair dependem de cada país.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Impressões sobre a Índia

Retorno a escrever, após quase nove meses desde o meu primeiro post. A Índia continua a mesma. Mas a maneira que eu a enxergo...Ah, meus amigos, isso mudou!

Depois que você já está mais acostumada ao seu novo estilo de vida e deixa de comparar o país que você morava com o que você está, tudo melhora. O que mais me encanta por  aqui é que eu ainda consigo perder meu fôlego diariamente. Sabe quando você já tem a sua rotina estabelecida, mas mesmo assim consegue sempre se surpreender? Então. Você vai viver e ver muita coisa diferente...

Você vai ver muita gente comendo com as mãos. E eu não estou falando de pizza, salgado ou sanduíche. Você vai ver gente comendo arroz, feijão e sopa com a mão. Talvez você faça igual. Talvez você fique com nojo. Eu, aliás, sentia muito nojo. Hoje prefito interpretar este ato como uma forma livre de se comer. Você pode fazer o que quiser que ninguém vai reparar ou se importar. Lembro da minha mãe batendo na minha mãozinha durante minha infância, toda vez que eu tocava a comida: "Não pode, isso é feio". Pois aqui não é. Indianos, aliás, acreditam que a digestão dos alimentos acontece melhor quando você os ingere com suas mãos.

Você sentirá falta de sua privacidade. Isso é uma das coisas que mais me irrita em Mumbai. Você NUNCA está sozinha! Sempre tem muita gente nas ruas, nas estações de trem, no cinema, shopping. E quando você é trainee, até mesmo no seu quarto, que já é compartilhado, sempre vai ter muita gente. O lado bom é que é mais difícil sentir saudades dos amigos e da família, porque sempre vai ter alguém te convidando pra fazer alguma coisa. Ainda assim, confesso que  muitas vezes sinto falta de ter meu espaço.

Você vai ver que o trânsito é uma loucura. Já fui atropelada duas vezes rs. Na primeira, uma moto passou por cima do meu pé e na outra uma bicicleta, vindo na contra mão, me derrubou. Conclusão: não importa o quanto você olhar antes de atravessar a rua, sempre vai surgir alguém do nada e te surpreender rs.

Perceberá que deve viajar sempre que puder! Além de te ajudar a quebrar a rotina, te ajuda a não julgar um país inteiro a partir de uma única cidade. Aos poucos, escreverei mais detalhadamente sobre as minhas experiências nos quatro cantos daqui. Mas seria como se um gringo fosse somente para São Paulo ou, quem sabe, apenas para o Acre e achasse que o Brasil inteiro fosse parecido com aquela determinada região.

Faça amizade com indianos. Sim, é legal conhecer gente do mundo todo. Mas tente se aproximar também de pessoas locais. Além delas te ajudarem a entender mais a cultura e darem dicas sobre o lugar, indianos são incríveis! Acho lindo o quão prestativos eles são, o quanto eles fazem questão de te tratar bem quando se importam com você e apesar de tímidos no começo, o quão receptivos eles são para te fazer gostar do país deles. Meus amigos indianos me ensinam a cada dia, através de seus atos, como ser uma amiga melhor. E acima de tudo, a valorizar quem realmente se importa com você.

No final, você vai ver que, na realidade, não existe um lugar "melhor"ou "pior". As coisas são simplesmente diferentes. E isso é incrível! Ok, pode ser difícil para se adaptar, mas tenha a certeza que te fará crescer. Afinal de contas, você saiu do Brasil para ter uma experiência nova, certo? Então, aproveite!

sexta-feira, 23 de março de 2012

Coisas que você perde e ganha vivendo no exterior

Faz exatamente 6 meses que eu estou na Índia. É engraçado pensar como em tão pouco tempo é possível viver tantas experiências novas, ter tantos sentimentos intensos e aprender tanto com o diferente. Nestes últimos meses aprendi, principalmente, a me desapegar de coisas, pessoas, manias e opiniões formadas. Perdi e ganhei na mesma intensidade, mas em ambos os casos cresci. Contei com a minha intuição e por algum motivo, que muitas vezes nem eu consigo explicar com precisão, me lembro apenas de que decidi abandonar minha zona de conforto e encarar o desconhecido. Mesmo que para muitos, isto não fizesse o menor sentido.


Resolvi ( mais uma vez) ficar longe da minha família e percebi que se desapegar da presença deles, não é sinônimo de que eu preciso abandonar os meus valores. Mas significa sim abrir mão de estar junto no Natal, no Ano Novo Novo, na formatura do seu irmão mais novo ou no aniversário dos seus pais. É pedir demissão do seu trabalho e abrir mão de uma viagem à Nova York paga pela sua própria empresa, fruto do reconhecimento de todo esforço que você teve. É deixar seu apartamento que você compartilhava com suas melhores amigas, abandonar seu quarto individual e sua confortável cama king size. É trancar sua faculdade e “adiar” por 1 ano se graduar na profissão que você sempre sonhou em exercer.


É deixar de comer carne vermelha todo dia e sushi toda semana, mesmo que eles sejam seus pratos favoritos. É não poder voltar pra sua cidade natal aos fins de semana e não estar perto de quem você ama e de quem te ama. Mas também é saber reconhecer que você sente saudade e que agora você os valoriza ainda mais. É ficar com medo de que algo ruim aconteça enquanto você esteja longe, de comemorar vitórias a distância, de chorar ao telefone quando tudo parece perdido e ser consolada por aqueles que sempre estiveram ao seu lado e que agora estão do outro lado do mundo.


Ao mesmo tempo é ter orgulho de falar que você é trainee de uma multinacional no exterior. E mais do que se desenvolver profissionalmente, é sentir que seu caráter, sua maturidade e sua flexibilidade também estão se desenvolvendo. É provar todo dia uma comida nova, sentir falta dos pratos que sua mãe cozinhava, mas aprender que o diferente também pode ser muito bom. É ouvir todo dia uma língua que você ainda não entende, mas que você já sabe se virar. É conseguir perder 9 kg em apenas um semestre, porque você finalmente aprendeu a levar a sério exercícios físicos. É conhecer amigos de todas as partes do globo, aprender a respeitá-los, amá-los e ajudá-los, e acima de tudo, ser madura o suficiente pra entender que uma hora a gente tem que dizer “adeus”. Mas eu ainda prefiro acreditar que é apenas um “até logo”.


É poder realizar seus sonhos de infância. É andar de elefante, mergulhar nas águas quentes da Thailândia, abraçar um tigre, aprender yoga, ver de pertinho um encantador de cobras. É visitar o Taj Mahal! É você fazer coisas (e ser paga por isso) que também nunca havia sonhado. De repente você vira ringue girl, dubladora de filme, recepcionista de Bollywood ou até mesmo personagem da Disney em uma festa infantil. É trabalhar em um casamento luxuoso no fim de semana e ser parada pela criança com fome na estação de trem. É aprender que o ser humano é tão diferente e tão igual, tão maravilhoso e tão horrível. É sentir que você pode e deve tentar mudar o que não te deixa dormir em paz. É aprender a ter compaixão pelo outro, pelo mundo e por você mesmo. E perceber que mais do que conhecer lugares diferentes, viajar é se conhecer melhor, se amar e (re)aprender como é se apaixonar por outra pessoa...


É acima de tudo ter coragem de seguir seu coração e seus instintos. Como Steve Jobs acreditava “Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, karma, o que for. Esta abordagem nunca me desapontou, e fez toda diferença na minha vida.” E é justamente isto que me motiva. De alguma forma, eu também sei que essa experiência vai fazer toda a diferença na minha vida. Ah, vai! Porque já começou a fazer e eu ainda tenho mais 6 meses aqui...

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Músicas Indianas

Há algumas semanas fiz um post sobre a música "Chammak Challo" e várias pessoas me procuraram curiosas me perguntando mais sobre as músicas indianas. Afinal, o que os indianos ouvem?

Como já escrevi anteriormente Bollywood influencia (e muito) no gosto musical e no comportamento da população de Mumbai. Nas casas noturnas não faltam os grandes hits bollywoodianos. Mas as músicas americanas, assim como no Brasil, são as que mais predominam.

Abaixo seguem os clipes das músicas mais tocadas nas rádios e baladas daqui. Engraçado notar que os "dançarinos" são, na grande maioria das vezes, estrangeiros. Para os produtores é uma mão de obra barata, para os gringos que participam é uma super "experiência de vida". Afinal não é sempre que você tem a chance de participar de um filme, não é mesmo? E sim, confesso que ainda quero ter minha aparição em Bollywood rs.

Clique no nome das músicas para conferir:


"Kolaveri Di" é minha favorita (e que não veio de Bollywood rs).


"Teri Meri" do filme "Bodyguard".



"Criminal"
do filme "Bodyguard", assim como Chammak Challo, do filme "Ra One".



"Dildara"
, também do filme "Ra One", é a versão indiana da música "Stand by me".



"Subha Hone Na De" do filme "Bodyguard": do filme "Desi boyz".



"Sheila Ki Jawaani" do filme "Tees Maar Khan" (esta música é considerada super sensual).

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Fazendo Yoga na Índia

O despertador tocou, eu o desliguei, fingi que não o havia escutado e fechei os olhos novamente. Tarde demais! Mesmo cansada, já não conseguia mais voltar a dormir. Mesmo meu celular estampando aquele horário tão cedo: 07:45 da manhã. Minha cama me abraçava confortavelmente, meu corpo queria ceder, mas minha consciência não permitia: eu precisava ir ao yoga.

O exercício começava antes mesmo da aula iniciar. Eu deveria aprender a controlar a minha mente, não ser vencida pelo meu próprio corpo ou pelos meus sentimentos. Foi o que minha professora havia recomendado no primeiro dia. Me esforçando muito para vencer o cansaço e a preguiça, finalmente levantei. Minha casa estava em um raro momento de silêncio. Todos ainda dormiam. Coloquei minha roupa de ginástica, peguei minha mochila (já a havia deixado pronta no dia anterior) e fui para a estação de trem encontrar a Fernanda, uma outra trainee brasileira que também queria aprender a meditar.

Mesmo cedo, a estação de Andheri já estava um caos. Vendedores ambulantes, cachorros de rua, mulheres de sari, alguns turistas e vários trabalhadores se espremiam pelos corredores para tentar pegar seus respectivos trens. Eu estava sendo empurrada pela multidão, atenta a qualquer tentativa de roubo da minha mochila e tentando evitar que meu corpo fosse tocado pelos “engraçadinhos”. Minha vontade era gritar, empurrar todo mundo e sair correndo de volta para a minha cama...

Mas eu não conseguia tirar da minha cabeça o segundo ensinamento pregado pela minha professora: pratique sua paciência e seja gentil com as pessoas sempre. Eu tentava. E como tentava. Mas era praticamente impossível ser paciente com o fim do mundo acontecendo logo de manhã. Eu contava minha respiração para me acalmar, mas o ar poluído de Mumbai invadia minhas narinas e eu me perguntava, plagiando minha mãe, “por que eu fico inventando moda?” rs. Mesmo assim, não desisti! Eu estava determinada a aproveitar minha experiência na Índia ao máximo e isso incluía praticar yoga.

O trem, milagrosamente, não estava tão lotado. Me dirigi para o vagão das mulheres. Uma das vantagens de acordar cedo logo foi destacada: era possível, até mesmo, sentar. Felizmente, eram apenas duas estações no trem “lento”. Há dois tipos de trem em Mumbai o “fast”(rápido) e o “slow”(lento). A diferença? Não, não é a velocidade. O lento para em todas as estações, enquanto o rápido apenas nas principais.

Depois de 15 minutos de viagem eu já estava na estação Santa Cruz. Dali eu precisaria de somente mais 5 minutos de caminhada para alcançar meu destino final: o Instituto de Yoga Santa Cruz. Me considerava com sorte de morar tão perto de umas das melhores escolas de yoga do mundo. Isso e os benefícios que eu já notava após o início das aulas, me motivavam a não desistir.

Era impressionante como um lugar poderia ser tão silencioso mesmo estando no centro de Mumbai. Placas de “fale somente se realmente necessário” ilustravam as paredes. O ambiente exalava tanta paz que, neste momento, toda a minha raiva já havia desaparecido. Atravessei o jardim do recinto. Minha sala era no segundo andar. Antes de entrar no prédio, no entanto, eu deveria tirar os sapatos. Subi as escadas descalça e cheguei até a sala aonde cerca de vinte e cinco mulheres meditavam na posição do lótus (Padmasana). Esperei do lado de fora até que desse meu horário.

As 09:30 elas se levantaram e foram embora com uma expressão serena no rosto. A nova turma de mulheres que aguardava do lado de fora agora preenchia a sala. Eu fazia parte deste novo grupo. Minha professora aguardava no canto da sala. Minha amiga e eu éramos suas únicas alunas naquele horário. Fazíamos aulas especiais, ou seja, ministradas em inglês.

Durante os sessenta minutos de aula eu relaxava, meditava (ou pelo menos tentava) e sentia partes do corpo que eu nem sabia que poderiam ser exercitadas. Me acalmava e prometia baixinho que tentaria ser um ser humano melhor...

Ao fim desta uma hora, coloquei meus sapatos e fui para a estação. Me sentia renovada! Mal cheguei na plataforma que meu trem sairia e já fui abordada por uma garotinha. Ela deveria ter no máximo 4 anos. Usava um vestido amarelo rasgado, estava descalça e muito suja. Seus cabelos eram curtos e embaraçados, os olhos estavam remelentos e o nariz escorria. Ela pedia dinheiro. Eu, acostumada aos milhares de pedintes, instantaneamente, disse “não”. Ela insistia me mostrando a mãozinho e eu também insistia no meu posicionamento. Não! Foi quando ela me olhou com os olhos cheios de lágrimas e falou uma das poucas palavras em hindu que eu reconheço: khana. O significado? Comida. Meu coração partiu. Ela me olhava fixamente, me desafiando e despertando compaixão.

Não aguentei. Perguntei para ter certeza “Khana?” e ela consentiu. Sabia que não resolveria todo o problema da fome mundial, mas não consegui ser indiferente. Fomos a um quiosque próximo que vendia comida. Ela me deu a mão e mesmo caminhando juntas havia um abismo de diferenças entre nós. Falei para o vendedor avisá-la que ela poderia escolher qualquer coisa que quisesse. Ele traduziu em hindu para ela e a pequena me olhou espantada. Com ansiedade, analisou todas as opções e me perguntou se poderia pegar dois: uma bolacha de maizena que a irmã mais velha gostava e balas para ela. Saímos do quiosque com os doces. Ela me pediu ajuda para abrir os dois pacotes. Devorou a metade de cada um e guardou o restante para a irmãzinha.

Meu trem chegou, entrei no vagão e acenava para minha mais nova amiguinha. Foi quando notei que mais umas 15 crianças corriam em minha direção. O trem começou a andar e me afastava da estação de Santa Cruz, mas não deu para não deixar de ouvir que as crianças gritavam para mim (e para quem quisesse escutar) “khana, khana, khana”...

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Curtindo as férias na Tailândia

Estou de férias na Tailândia!!!! Consegui 2 semanas de folga no trabalho e aproveitei para me jogar no Sudeste Asiático. Pra vocês acompanharem um pouco das milhares de aventuras que este lugar está proporcionando postarei dois vídeos: um em Bangkok e o outro em Phuket.
Confiram!

Comendo insetos em Bangkok (Coragem!!)


Andando de caiaque em Phuket

sábado, 10 de dezembro de 2011

Dublando um filme indiano

Estava almoçando com um amigo quando meu celular toca. Não era uma ligação que eu esperava. Muito menos esperava o convite que eu estava prestes a receber. "Alô, Bianca! Você tem algum plano pra amanhã? É que um diretor de cinema gostou da sua voz e quer que você duble a protagonista do filme dele. Topa?" Silêncio. Não acreditei!

Logo quando eu cheguei em Mumbai, dublei uma propaganda de sabão em pó. Uma agência de publicidade indiana estava fazendo um comercial protótipo para a Unilever e precisavam de brasileiros para dublar. Fiz. Foi uma experiência muito legal e de bônus recebi o equivalente a 5000 rúpias, o suficiente para pagar as contas fixas de um mês: aluguel, internet, eletricidade e diarista.

O tal Diretor ouviu este material que eu já havia gravado e Paresh, o coordenador indiano responsável pelas dublagens, agora me convidava para mais um trabalho extra. Topei pela experiência e pelo dinheiro: ganharia 20.000 rúpias. O equivalente ao que eu ganho em um mês como trainee. A diferença é que trabalharia apenas quatro dias.

Fui ao local combinado em um domingo de manhã. Não haviam me passado o roteiro do filme e nem me explicado meu papel. Apenas cheguei disposta a encarar seja lá o que me aguardava. Havíamos marcado as 10:00. Cheguei as 09:45, mas não havia mais ninguém. Esperei até as 10:15 e nada. Preocupada liguei para meu contato. Ele me atendeu e disse que já estava chegando.

Dez minutos depois nos encontramos. "Bianca, que bom te ver novamente! Vamos tomar um "chai"? Os produtores chegam em quize minutos". Do outro lado da rua, um senhor de aproximadamente 60 anos, com olhos cansados e a testa suada, preparava os famosos "chais" indianos: um chá feito através de uma mistura de especiarias, masala e leite.
Fomos servidos em copos de metal. Todos os outros homens tomavam no de vidro. Pensei que fosse apenas coincidência, mas resolvi perguntar apenas pra ter certeza. E ele confirmou o que eu já desconfiava: castas inferiores tomam no copo de vidro. Os "privilegiados" tomam no de metal. Ao menos foi o que ele me disse.

É surreal pensar o quanto é forte estas diferenças sociais aqui na Índia. Esta, aliás, é a característica mais gritante entre aqui e o Brasil. No país do futebol a maioria das pessoas não aceita pacificamente ser "desprivilegiada": elas assaltam, roubam e se for preciso, matam. É lógico que há algumas que estudam, batalham e conseguem ascender socialmente. Mas aqui na Índia é diferente. É nítido que a grande maioria aceita sua condição de vida, porque "era pra ser assim". Vivem para servir e servem para sobreviver. Seja porque a base da religião hindu prega isto (quem tiver mais curiosidade pode acessar aqui) ou porque acreditam estar encarando um karma (saiba mais).

Enfim, chai tomado, recebemos a ligação de que a equipe "já" nos aguardava. Chegando à sala de dublagem fui apresentada ao Diretor do filme, Lal Jose e ao Produtor Salam Palapetty. Ali eles me informaram que eram de Kerala, sul da Índia e que eu dublaria o filme Spanish Masala. As filmagens foram gravadas na Espanha. A protagonista Camila, a personagem que eu dublaria, era espanhola, mas havia crescido na Índia. Assim, ao decorrer da história, ela falava três idiomas. E este era meu desafio: dublar em espanhol, inglês e malayalam (?) (a língua falada no Estado de Kerala). Todo esse trabalho seria necessário, pois a atriz que interpretou "Camila" era austríaca e não sabia nada de espanhol.

Foram muitas horas de trabalho. Exaustivo e divertido: grava, volta, repete, grite mais, chore menos, sorria com ternura, não respire próxima ao microfone! Que experiência incrível! Complicada, mas incrível!Primeiro que além de ter que falar conforme a boca da personagem se movimentava, eu também precisava transmitir a mesma emoção e de quebra me preocupar em pronunciar corretamente três línguas diferentes, sendo que nenhuma delas é meu idioma oficial. No entanto, a equipe foi muito atenciosa e me ajudou a superar todas as dificuldades.

A estreia será em dezembro. Estou ansiosa para assistir ao filme, reconhecer minha voz, ler as críticas e com o dinheiro ganho nas gravações fazer a minha tão sonhada viagem à...Ah, pra que estragar a surpresa?


Dublando o filme Spanish Masala

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Tentando ir ao banheiro em um trem indiano

Você detesta usar banheiro em ônibus? É porque você ainda não viu como é em um trem indiano. Aliás, o problema não é somente a falta de higiene no banheiro, mas principalmente a dificuldade de conseguir chegar até ele.

Este vídeo foi gravado pela minha amiga Priscila, quando estávamos a caminho de Delhi. Foram 18 horas de viagem. No meio da noite, me deu vontade de ir ao banheiro. Tentei segurar, evitar, aguentar. Mas não deu.

Eu sabia que seria difícil. Só não esperava encontrar tantos obstáculos...humanos!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Comendo com fiéis hindus


Claudinha (Itália) e eu almoçando com os hindus


Estava em Nasik, localizada a 167 km de Mumbai, com mais 6 amigos. Juntos celebrávamos o aniversário de uma das minhas companheiras de república, a russa Dinara. Mesmo a cidade sendo famosa por suas vinículas, o que mais me surpreendeu não foram os vinhos que já esperávamos degustar, mas sim um pequeno templo hindu que ficava próximo à nossa guest house e que não fazíamos ideia de que encontraríamos pelo caminho. Decidimos entrar apenas por curiosidade.

Antes de entrarmos, no entanto, fomos informados que deveríamos tirar o sapato. Tiramos e deixamos ali mesmo na calçada, na confiança de que quando voltássemos eles estariam no mesmo lugar. Subimos os degraus e entramos.

Mal entramos e eu já fiquei hipnotizada. As cores e o cheiro das jasmins, a fumaça do incenso, o olhar sereno de Lord Ganesh (o deus elefante), a fresta de luz enfatizando o altar. As paredes eram de pedra e havia algumas frases em hindi esculpidas. Eu pisava naquele chão frio e sagrado. Paz, calma e silêncio dominavam meu estado de espírito. Um silêncio tão grande que nem os fiéis fervorosos rezando em voz baixa, os poucos turistas presentes com suas câmeras e algumas pombas sobrevoando o local conseguiam quebrar.

Fiquei absorvendo e sentindo todas aquelas sensações até que uma menininha, próxima à porta lateral esquerda, me chamou atenção. Ela nos olhava curiosa, apenas com a cebeça pra dentro do templo e quando percebeu que eu tinha notado sua presença sorriu timidamente e foi embora. Eu a segui.

Ela estava na companhia de cerca de 15 crianças. Todas estavam descalças, com um sorriso estampado no rosto, os olhos ingênuos brilhavam e elas arriscavam algumas palavras em inglês como "what's your name?" ou um siples "hello". Peguei minha câmera e perguntei se poderia fotografá-las. Elas consentiram. Ficamos ali entre flashes e gargalhadas. Neste momento, meus amigos já haviam se juntado a nós.

Até que o pai de uma das garotinhas aproximou-se e começou a falar uma língua que não compreendíamos. Automaticamente pensei que ele estava incomodado pelo fato de estarmos fotografando as crianças. Mas logo percebi que suas mãos nos convidava a segui-lo. Seguimos.

Ao lado do templo havia uma lona armada e muitas famílias comiam no chão. Estavam todos sentados na terra, não usavam talheres e os pratos eram feitos de folhas. Eles queriam que comêssemos com eles.

Culturalmente é muita falta de educação recusar comida, convite ou qualquer coisa que um indiano te ofereça. Mesmo assim, recusamos. Com jeitinho e um sorriso, mas recusamos. Primeiro, porque não estávamos com fome. Segundo, porque na Índia é complicado comer em "qualquer" lugar e ali não parecia haver uma preocupação com higiene. Mas quem disse que eles aceitaram o nosso "não"?

Começaram a colocar os pratos/folhas no chão, a forçar a gente sentar e cada fiel hindu vinha nos servir um tipo de comida: arroz, caldo de grão de bico com legumes e alguns "puris", espécie de pastelzinho indiano. Comovidos pela simplicidade e não querendo parecer rudes diante de tanta gentileza, aceitamos.

E ali, sentados na terra, começamos a comer ao lado dos fiéis. Homens, mulheres, idosos e crianças nos serviam. Pediam para tirar fotos na nossa companhia e perguntavam insistentemente se precisávamos de mais alguma coisa. Comemos sem garfo, faca ou colher, apenas com nossas mãos, sentados na terra. A falta de higiene que antes nos preocupava, já não era mais um problema diante de tanta hospitalidade.

Ao final da refeição, uma senhora nos perguntou se poderia pintar nossas testas com a tika (ou tilaka), o pó para o terceiro olho. Aceitamos. Silenciosamente, enquanto ela me marcava, desejei que aquele olho me fizesse enxergar a vida com mais sabedoria...

Nos despedimos dos acolhedores anfitriões. Olhamos pela última vez para o templo e fomos para a rua. Os sapatos ainda estavam lá, no mesmo lugar que havíamos deixado. Mas nossas mentes e nossos corações já não eram mais os mesmos...


Recebendo meu terceiro olho

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fatos e boatos sobre a Índia

Quando decidi que viria à Índia fui bombardeada por opiniões de amigos e familiares. Me disseram que eu era louca de ir pois o país era extramamente perigoso, sem higiene, com muita pobreza, que eu poderia pegar doenças e mais um infinidade de pontos negativos que eu já nem me lembro mais.

É justamente por isso que eu amo viajar! Nada como ir, sentir, ver, enxergar e experimentar. E depois de ter todas essas experiências, aí sim, poder criar opiniões e ter um ponto de vista.

Antes de embarcar, eu me informei, li guias de viagem, vi fotos, assisti a documentários. Me sentia preparada para enfrentar seja lá o que me aguardava nesta terra tão exótica. Mas eu não queria simplesmente os dados, saber a história do país ou conhecer as religiões. Não aguentava mais clichês! Eu queria relatos mais pessoais, saber a opinião de quem já havia vivido por aqui, saber os pontos positivos e negativos, saber como ser uma mulher ocidental em Mumbai.

Por isso, resolvi escrever um pouco sobre alguns fatos e boatos daqui da Índia. Pra ajudar os futuros viajantes e informar os curiosos pelas diferenças culturais! =)

Eis alguns comentários que eu ouvi antes de vir e já comprovei se são ou não verdade:

1 – Indianos comem com as mãos

Sim, comem. Aliás, com A mão direita. A esquerda é considerada “impura”, pois é reservada apenas para a higiene pessoal. Mas depende também muito do ambiente em que eles se encontram. Quando estou na empresa com meus amigos indianos ou vamos a algum restaurante ocidental, por exemplo, eles usam garfo e faca.

2 - O trânsito é um caos

Depende muito da cidadade, do bairro e do horário. Mas geralmente é sim rs! Em Mumbai nos horários de pico tem muito congestionamento, assim como em São Paulo também tem. A diferença é que por aqui, além dos moto boys, ônibus e carros, também há rikshaws, ciclistas, vacas (!), pedestres (!!!)...

3 - A Índia é um país perigoso

Boato! Apesar do país ter uma diferença social gritante, não me sinto ameaçada ao andar na rua (não importa o horário), ao contrário de como me sentia no Brasil. Sim, a possibilidade de um(a) estrangeiro(a) chamar a atenção é muito grande. Possivelmente os indianos vão te olhar, te cumprimentar, sorrir, perguntar seu nome, pedir pra tirar foto e até tentar tirar uma vantagenzinha cobrando a mais pela mercadoria ou fazendo caminhos mais longos com o taxi ou o rickshaw. Mas você não sente medo de ser assaltada. Indianos são muito pacíficos. É lógico que, independente do país, não pode bobear. Por isto, fique sempre atento!

4 - A comida é apimentada

Fato! A comida é cheia de especiarias: açafrão, curry, cominho, masala, pimentas. Eu amo! Mas se você está com receio do tempero ser “too much”, não custa nada pedir para prepararem com menos pimenta.

5 - Tome cuidado com a água

Fato! É comum quando você vai a um restaurante na Índia o garçom te servir água como cortesia da casa. O problema é que você não sabe da onde ela veio. O ideal é comprar sempre água mineral. Não se preocupe com o preço, água é muito barata aqui (uma garrafa de 1 litro custa cerca de 15 rúpias, o equivalente a 0,50 centavos de real).

6 - Mulheres têm que andar cobertas


Boato! Mas é claro que mais uma vez vale ressaltar que não pode bobear. Você encontrará mulheres de burca, saris e lenços. No enanto, também encontrará mulheres (na maioria das vezes, mais jovens e moderninhas) vestindo calça jeans, saias e shorts. Se eu estou sozinha procuro usar roupas mais fechadas: uma camisa social e uma leggin ou um jeans e uma blusinha (desde que não seja decotada, lógico). Mas nas baladas (sim, na Índia existem baladas, ótimas por sinal!!) você pode ir de mini-saia, vestido, shortinho, decote. É só ter noção de quando e onde poder usar uma roupa que vai mostrar um pouco mais do seu corpo.

7 - Indianos não comem carne

Você realmente encontrará muitas pessoas vegetarianas. Inclusive, vegetariano aqui não deixa apenas de comer carne, também não consome ovos, por exemplo. Aliás, todos os produtos na Índia são obrigados a ter uma etiqueta informando se é vegetariano (bolinha verde) ou não vegetariano (bolinha vermelha). A carne de vaca é proibida na Índia, pois este animal é considerado sagrado. Mas você ainda pode comer frango, cordeiro, búfalo, peixe e frutos do mar.

8 - Você vai ficar sem cortar o cabelo, depilar, fazer a unha...

Mulheres, a Índia é um paraíso para a vaidade rsrs! Não se preocupem, aqui também tem cabeleireira, manicure, pedicure. Você vai ao salão e tira a sua sobrancelha com linha por apenas 20 rúpias (cerca de 0,35 centavos do real). As massagens também são super acessíveis (cerca de 15 reais). Fora a variedade de pulseiras, brincos, colares, tecidos, lenços...

Caso você queira saber de mais algum ponto que eu não tenha abordado aqui, apenas deixe um comentário que eu te respondo, ok?

Lembrando que essas verdades não são universais. São apenas os pontos de vista de uma estudante de jornalismo brasileira interessada em conhecer o mundo e em aprender com as diferenças culturais...

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Assistindo a um filme de Bollywood

Fui ao cinema assistir Ra One, filme Bollywoodiano que está em cartaz em Mumbai. Pra quem não sabe, Bollywood é a maior indústria cinematográfica do mundo (sim, maior que Hollywood) e tem sua sede aqui em Mumbai (ou Bombay, como alguns indianos preferem chamá-la).

O áudio dos filmes é em hindi e não há legendas. Ou seja, viva a dedução rs! Mas como estava assistindo a uma ação/ficção foi possível entender, pelo menos, o enredo.

Antes do início porém, a bandeira indiana é estampada na tela, todos se levantam e cantam respeitosamente o hino nacional.

Também pude conferir a atuação de dois dos mais famosos atores do cinema indiano: Shahrukh Khan e Kareena Kapoor (vejam o clipe abaixo). Além, é lógico, de poder cantar (pasmem, já sei a letra rs) a música tema do filme e top 1 das baladas indianas: Chammak Challo (algo como "minha menina sexy"), interpretada por Akon.

Confiram o clipe oficial!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Celebrando o Diwali

Entre o fim de outubro e o começo de novembro os hindus celebram o Diwali (algo como nosso ano novo). As pessoas vestem roupas novas, há fogos de artifícios, as famílias se reúnem para jantar e as pessoas se presenteiam com doces. A comemoração dura a semana toda, mas apenas na quarta-feira (este ano comemorado no dia 02/11) é feriado na Índia e o dia oficial para o jantar e a troca de doces.

Tive a oportunidade de passar o Diwali na casa de uma família indiana com mais alguns trainees (todos da América Latina). Vestimos roupas típicas, jantamos todos juntos e dançamos (músicas de Bollywood).

Na casa havia um altar dedicado à Lakshmi (ou Laxmi). Esta deusa é a representação da fartura, da beleza, da riqueza, da generosidade. É a esposa do deus Vishnu. Os hindus limpam suas casa, rezam e oferecem flores à deusa para que ela os abençoe no novo ciclo que se aproxima.

Abaixo algumas fotos do meu primeiro Diwali!


Mulheres (ocidentais e indianas) celebrando o Diwali



Eu, Pri e Amandinha - 3 brasileiras comemorando o Diwali



Quase uma indiana, não?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Um minuto de fama no Taj Mahal

Sábado fui à Agra conhecer o tal do Taj Mahal. Me surpreendi! Não é a toa que o mausoléu construído pelo príncipe Shah Jahan foi escolhido como uma das 7 maravilhas do mundo moderno.

Fiquei encantada pela beleza e o misticismo do lugar. Impossível não se deixar envolver, não ter calafrios, não perceber que está realizando mais um sonho, não admirar uma construção feita por mais de vinte mil pessoas, não pensar em quantos terão a mesma oportunidade de estar ali no seu lugar.

Agradeci mentalmente. Não me contive e comecei a chorar. Primeiro uma lágrima, depois duas, três. Tentei evitar, mas já não dava mais. Lá estava eu no meio de uma multidão de turistas e indianos chorando compulsivamente.

Chorei de alegria, de entusiasmo, de emoção. Um sentimento de realização pessoal e de uma certeza de que realmente valeu a pena largar toda a zona de conforto e optar pelo incerto, pelo desconhecido, pelo novo.

Perceber que são estas novidades e descobertas que fazem com que eu viva e não apenas exista. Que me motivam a sempre buscar mais e que me ajudarão a ser um ser humano melhor. Por mais utópico que possa parecer é este friozinho na barriga que me impulsiona e que me impede de ser conformista. É por isso que concordo com Gandhi de que devemos ser a mudança que desejamos ver no mundo!

E embriagada por este misto de sentimentos, apenas voltei à realidade quando um indiano, vencendo a timidez, me perguntou se eu poderia tirar uma foto com ele. Não entendi o motivo, mas aceitei. Só não esperava que a partir deste momento eu fosse ter meu um minuto de fama. Bem ali, aos pés do Taj Mahal...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Coisas que a gente começa a achar normal

Ontem fez 1 mês que eu cheguei em terras indianas. Em tão pouco tempo aconteceu tanta coisa que as vezes tenho a impressão de estar aqui a mais semanas. O mais engraçado é que o tempo vai passando e você começa a se acostumar a situações que antes te chocavam. Explico:

Chegou uma brasileira nova em Mumbai. Estávamos indo a um restaurante localizado em Bandra, ao sul da cidade. Estávamos no taxi: eu, ela e mais duas trainees do Brasil. O carro parou no semáforo. Estava curtindo(!) uma musica indiana que tocava na rádio e olhando a paisagem quando escuto um “Aaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhh, um rato”.

Com apenas uma semana de Índia era a primeira vez que a novata via um desses malditos animaizinhos. O que mais me assustou não foi o roedor, mas sim a minha reação e a das meninas que já estão aqui a mais tempo: nós rimos! E rimos ironizando: “Nossa, que grande novidade, um rato”!

Logo depois de fazer isso, eu me lembrei de que fizeram o mesmo quando eu vi um rato pela primeira vez na Índia. Ele era enorme! Veio correndo na minha direção e eu gritei desesperada. Todos tiraram sarro de mim. Eu não entendi na época (Observação: época = isso faz 4 semanas). Como poderia ser normal ver um ratinho correndo feliz do seu lado e não se assustar. Não sei se é normal, mas hoje isso é muito comum pra mim.

Assim como tornou-se comum: ver crianças e adultos defecando em público. Encontrar vaca, galinha, cabra, bode, elefante, barata, caminhando nas ruas (já falei dos ratos?). Quase ser atropelada diariamente pelos rikshaws, ciclistas, motoqueiros, pedestres e animais. Ter que barganhar em tudo para pagar um preço “justo”. Ficar surda com as infinitas buzinas e ainda ter que ler nas placas dos meios de transporte “horn ok please” (buzine por favor). Morar em um flat com mais 6 pessoas (cada um de uma parte do mundo) e como não tem lugar suficiente para todos, ter que dormir na sala. Comer curry no café da manhã, almoço e jantar. Fazer academia e seu personal indiano te corrigir em hindi, mesmo você não sabendo esta língua. Ficar estressada no trabalho e poder descer para o refeitório da empresa para jogar sinuca ou tênis de mesa. Não precisar usar roupa social no escritório e poder ficar descalça. Ser elogiada por ainda usar perfume e por se maquear (Mãe, lembra que eu te prometi que não perderia a vaidade? Então. rs). A cada dia receber uma proposta nova de emprego extra: seja para dublar um comercial ou fazer ponta em um filme de Bollywood. As crianças da minha rua correrem atrás de mim só pra me darem “bom dia” pelo nome. Não comer carne de vaca. Torcer para que o sábado chegue logo só para poder comer atum no “Subway do dia”. As pessoas te pararem na rua só para perguntarem se podem passar a mão no seu cabelo. Comer em lugares que antes você achava que não tinham higiene (agora eles têm?). A cada dia planejar uma viagem para um país diferente e seu chefe ser super flexível com suas folgas. Todo dia ser surpreendida.

Eu só sei que já não sei mais o que é normal, loucura, certo ou errado. Acredito que tudo depende do ponto de vista. Tento apenas manter meus valores, não julgar a cultura alheia e aprender com as diferenças. Quer saber? “Só sei que nada sei” MESMO. Mas eu desconfio de várias coisas...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Trabalhando numa premiére de Bollywood


Sendo maqueada para a premiére do filme Azaan


“Você quer trabalhar em um evento?” foi o que eu li quando abri meu facebook semana passada. Uma amiga colombiana, que eu conheci na Índia, havia me escrito a mensagem via “inbox”. Ela tinha o contato de uma agente espanhola que recrutava estrangeiras e haveria um evento na qual eu tinha “chances” de ser contratada. Sem saber muito bem do que se tratava, conforme recomendado, mandei um e-mail pra tal agente com duas fotos minhas anexas. Detalhe: fotos que destacassem que eu sou alta e “loira”. Não, nos padrões brasileiros eu não sou loira, mas nos indianos sim rs. O convite me fez lembrar do conselho que recebi logo que cheguei em Mumbai:

Quando desembarquei no aeroporto fui recepcionada por uma comitiva de trainees latinos. Uma das brasileiras presentes me alertou assim que me conheceu “pinte seu cabelo de loiro e você vai ganhar muito dinheiro aqui”. Não entendi muito bem. Apenas respondi que as luzes californianas (tecla sap para os homens: as luzes são feitas só nas pontas do cabelo para dar um certo brilho rs) eram o máximo que combinava comigo.

Mal enviei a mensagem e meu celular tocou. Saí do meu devaneio. Era a tal produtora querendo ter certeza de que eu estaria livre no dia seguinte. Disse que poderia comparecer depois do meu trabalho. Combinamos de nos encontrar em um shopping ao sul da cidade. Pedi mais informações sobre o evento. Ela apenas disse que me explicaria melhor pessoalmente. Só topei, porque o dinheiro pago por 5 horas de trabalho seria suficiente pra pagar minhas contas fixas do próximo mês inteiro. Como planejo viajar muito pela Ásia, uma grana extra seria muito bem-vinda.

Cheguei ao local combinado. Liguei para meu contato e em poucos minutos lá estava eu em um camarim (!) sendo maqueada por profissionais.

Fiquei deslumbrada com a quantidade de maqueadores e cabelereiros que haviam no local. Sentei em uma poltrona e começaram a transformação: prenderam meu cabelo a la “rabo de cavalo”, minha pálpebras receberam uma sombra escura, minhas bochechas se bronzearam e meus lábios ficaram vermelhos. Coloquei uma calça e uma regata preta, um cinto com um revólver (!) de brinquedo e somente dez minutos antes do show começar, finalmente, me explicaram minha responsabiliade naquela noite: receber os VIPs da premiére do filme Azaan, um filme de ação Bollywoodiano. Havia cerca de vinte e cinco estrangeiras contratadas e cada uma tinha a sua própria função. Todas estavam, assim como eu, vestidas de policial.

Eu não fazia a menor ideia de quem era famoso na Índia ou de quem só estava no cinema para ver a estreia. Todos estavam tão bem vestidos que eu me perguntava como saberia diferenciá-los. Mas não poderia deixar que percebessem minha aflição, mesmo não conseguindo ao menos identificar os atores que trabalharam no filme.

Fui para o meu posto. O salto alto e o batom vermelho me davam um pouco mais de auto-confiança. Quando entrei na sala de cinema, nenhum telespectador ou celebridade havia chegado. Estavam presentes apenas quatro meninos responsáveis pela limpeza. Eram a minha salvação.

Me aproximei e para a minha sorte um deles falava um pouco de inglês. Foi o suficiente para ele entender meu pedido.

Combinamos que ele limparia próximo ao lugar que eu ficasse. Desta forma, ele poderia me dar sinais se a pessoa era ou não famosa. Seria uma honra pra ele poder ficar tão perto dos artistas que ele via na televisão. Para mim, aquilo tudo era uma experiência maluca que me renderia muitas risadas, uma boa história e algum dinheiro no bolso.

Os convidados entraram, os recepcionei com um sorriso e meu plano funcionou perfeitamente. No final da noite voltei pra casa ainda não acreditando na noite que havia tido. Mas abri meu e-mail e já estava com outra proposta de trabalho ainda mais exótica...

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

A primeira viagem de trem



De cima para baixo: Eu, Eliabe (Brasil) e Wilman (Colômbia)



A noite na estação central de Mumbai estava caótica: pessoas deitadas no chão, crianças gritando e correndo, vendedores ambulantes oferecendo pipoca e “chai”, passageiros validando seus bilhetes, turistas tentando entender as placas em hindi, pedintes sentados nas escadas. Eu estava fascinada por aquele excesso de informação, mas não tinha tempo suficiente para absorver cada detalhe. Meu trem sairia em 15 minutos e eu ainda nem havia encontrado a plataforma que ele partiria.

Estava com mais três amigos brasileiros. No trem nos reuniríamos ao restante do grupo: cerca de 25 trainees, cada um de uma parte do mundo. Passaríamos nossos próximos quatro dias desfrutando das famosas praias de Goa. O destino, justamente por suas paisagens paradisíacas, tornou-se refúgio dos indianos (e estrangeiros) que buscam um lugar mais limpo e relaxante. Estávamos ansiosos por fugir do tumulto de Mumbai.

Encontrada a plataforma, o próximo desafio era identificar qual dos vagões deveríamos entrar. Cada um correspondia a uma determinada classe. Quando fomos comprar as passagens havia disponibiliade em três compartimentos: primeira classe, sleeper e o popular “newspaper”(rs). Este último é conhecido por “jornal” (tradução de newspaper), pois como não há lugar para sentar, você compra seu jornalzinho e se joga (literalmente) no chão rs. Confesso que não estava na vibe de economizar tanto assim. Além disso achei que seria um pouco traumático, logo na minha primeira viagem pela Índia ser tão desprendida rs. Resolvi ir de sleeper.

A diferença de preço entre a primeira classe para a sleeper era de 700,00 rupias. Quis economizar. O motivo do preço ser tão distinto? Na que havíamos comprado, não havia ar condicionado.

Fazia 38C. O vagão estava insuportavelmente quente. A ansiedade e o arrependimento tomavam conta de mim. Não conseguia imaginar como seriam minhas próximas doze horas dentro de um trem, sem ar condicionado, naquele calor. Os corredores cheiravam a suor. Mas não reclamei. Todos estavam sentindo o mesmo e tudo o que menos precisavam era que alguém ficasse colocando defeito em tudo.

O trem começou a andar, o vento a entrar pela janela e em poucos instantes me refresquei. Afinal, não seria tão ruim como eu imaginava. Fiquei aliviada. Aliás, algo muito valioso que eu aprendi ao longo dos meus mochilões foi, justamente, trabalhar expectativa: quanto menor ela for, melhor a sua experiência será. Me preparo sempre para o pior (não, não me considero pessimista), porque tudo de bom que acontecer ao longo do caminho me surpreenderá. As pessoas se frustram muito por sempre esperarem demais. Dica da semana: não espere muito de nada e nem de ninguém, dê o seu melhor e o que vier é lucro ;).

O vento me impedia de sentir o cheiro forte, me fazia esquecer de quão quente estava lá fora e o papo estava tão interessante que não via mais as horas passarem. Cada trainee falava de seu país, dos seus motivos pra terem vindo à Índia, das diferenças culturais e é engraçado, pois como sempre, o papo acabou no “aprender palavrões em outros idiomas” rs.

Depois de tantas risadas o sono apareceu. Fui surpreendida, mais uma vez, quando descobri que cada um teria a sua “cama” (fazia sentido o nome da classe ser “sleeper”, em uma traução bem literal, algo como “dorminhoco”). Havia um banco acima das nossas cabeças (até então achei que era o lugar para colocar as malas como, geralmente, vemos nos ônibus), o encosto que nossas costas estavam apoiadas era a segunda “cama”que precisava apenas ser montada e o local aonde estávamos sentados era a terceira.

A ala masculina sugeriu que eu pegasse a de cima. Afinal era mais fresquinho por ser próximo do ventilador (que cavalheiros, não? Gosto assim!) e a chance de algum indiano “desentendido” passar a mãozinha era quase nula. Topei e subi a escada. Pude alugar até travesseiro e lençol de um vendedor que passou pela nossa cabine. Relaxei, dormi e acordei já em Goa.

Quando desembarcamos, pegamos o taxi e começamos a desbravar as ruas, entendi imediatamente porque o lugar era tão famoso. Mas aí já é outra história...

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Abrindo a mente para entender a Índia

Fazia quatro horas que o avião da cia aérea South African havia partido de Joanesburgo com destino a Mumbai. Eu não conseguia dormir. Estava sentada próxima da janela e meu olhar oscilava entre o céu estrelado e a série “Lie to me”. A verdade é que eu não prestava atenção em nenhum dos dois. Minha mente estava no Brasil e em tudo que eu havia renunciado para passar meus próximos meses na Índia: abandonei meu emprego, tranquei meu curso de jornalismo, me despedi dos meus amigos e mais uma vez ficaria longe da minha família. E tudo por quê? Era o que eu tentava me lembrar naquele instante nostálgico...

O voo estava repleto de mulheres. Como elas eram diferentes. Provavelmente, elas pensavam o mesmo de mim. Algumas vestiam seus saris e piercings no nariz, outras preferiam jeans e bata. Ambas tinham um olhar sereno e curioso. E independente da roupa escolhida, todas estavam acompanhadas por seus homens. Elas me olhavam e comentavam qualquer coisa aos seus companheiros em uma língua que eu não compreendia. Era óbvio pra eles que eu não era indiana

As comissarias perguntavam “Veg food or non veg food?” (Comida vegetariana ou não vegetariana) e a maior parte dos passageiros optava pela primeira. Eu não. Comi arroz e frango ao molho curry. Não sabia qual a próxima vez que comeria “carne”. Antes de fazer meu pedido, porém, as refeições acabaram. A comissária pediu licença e foi até a cozinha repor os recipientes para terminar de servir os viajantes.

A senhora ao meu lado havia feito sua escolha: lasanha vegetariana. Antes de dar a primeira garfada, no entanto, sorriu e me perguntou “Do you want my food, my friend?” (Você quer minha comida, minha amiga?) Eu, ainda impressionada com a gentileza, apenas recusei, agradeci e retribui o sorriso.

Atitudes assim não são exceções na Índia. Há varios que tentam tirar vantagem, como em qualquer lugar. Mas há muitos que se mostram solícitos. Seja para dar uma informação na rua, pra te contar alguma história hindu ou perguntar seu nome para te saudar todas as manhãs.

Sim, os ratos ainda me assustam. Mas percebi que estes mesmos animais que me matam de medo são os únicos “brinquedos” que algumas crianças têm. O nojo que eu tinha de ver pessoas defecando na rua, me impedia de enxergar que elas não fazem isso apenas por não terem higine, mas se sujeitam, principalmente, por não terem um lugar decente pra morar.

É mesquinho ter ânsia de um lugar sujo, mas que eu estou por opção e não por obrigação. E os indianos que não tiveram este direito de escolha? Será que escolheriam que seus filhos brincassem ao lado de ratos, corvos e baratas?

Parece que, finalmente, eu comecei, mais do que abrir a mente, a abrir meu coração para aprender, aproveitar e me apaixonar pela Índia...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Choque cultural

Hoje é meu quarto dia em Mumbai e é engracado, porque em alguns momentos tenho a impressão de que já faz uns 2 anos que estou aqui e as vezes é nítido que eu apenas acabei de chegar.

Depois de visitar 24 países, finalmente, tive o tal do choque cultural. É muito difícil explicar este sentimento: é um misto de descoberta (me sinto como uma criança aprendendo tudo), com uma sensação de impotência por ainda não saber as malícias exigidas pra que eu sobreviva, com uma certa pitada de orgulho por eu ter tido coragem de vir e ao mesmo tempo uma certeza de que tem que ser muito louca mesmo pra ter vindo.

Em quatro dias, eu percebi que vou ter que aprender a ser mais desprendida. Não digo nem em relação a compras ou a dividir quarto (dividirei com mais 2 trainees), mas desprendida, principalmente, dos meus "nojinhos”. A minha primeira aquisição foi um álcool em gel. E acreditem, ele já esta na metade rs.

Vomitei dois dias seguidos de nojo. Nojo das mãos e unhas sujas dos indianos que cozinham sem luva, nojo do peixe que fica do lado do lixo e é servido aos turistas, nojo dos homens que te encaram com um olhar pervertido, nojo dos ratos e baratas que insistem em me assustar em TODOS os lugares, nojo do trem que é super lotado e cheira suor, nojo da falta de higiene, nojo por não ter papel higiênico em todo lugar, nojo porque a toda hora todos tentam me passar a perna. Enfim: nojo!

E é justamente aí que entra mais uma contradição deste país: não, não estou odiando (apesar de todos os perrengues). Afinal é uma outra realidade, eu sou a estrangeira, devo me adaptar (e não esperar que toda a Índia se adapte a mim) e de certa forma já havia me preparado para isto (lógico que quando você está lendo essas diferenças na sua casa, não é tão intenso quanto na vida real).

Mas ao mesmo tempo que é tudo muito sujo, é lindo ver o quão espirituais os indianos são. Ao mesmo tempo que eu me irrito com as crianças pedindo dinheiro nas ruas, eu me encanto quando elas sorriem e percebo que elas só querem atenção. Ao mesmo tempo que eu tenho medo de ter uma intoxicação alimentar, também me permito comer em alguns restaurantes (e a comida é deliciosa), ao mesmo tempo que eu odeio quando os indianos tentam tirar vantagem em tudo, eu amo o quão receptivos e solícitos eles são. Ao mesmo tempo que as vezes bate uma vontade de chorar, eu dou muita risada e me impressiono com a beleza deste lugar que ultrapassa a falta de saneamento ou higiene.

Mas é difícil. Nossa, como é! Mas quem disse que choque cultural é fácil? Se quer comodidade e zona de conforto fica em casa.

O jeito é começar logo minhas aulas de yoga pra exercitar meu equilíbrio e paciência. Afinal é isto que os indianos fazem, não é? Bom, ainda é cedo pra eu ter certeza disso, mas sei que por hora é o que eu vou fazer...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Bem-vindos à Mumbai

Quando recebi a proposta pra ser trainee em Mumbai não tinha ideia do que me aguardava. Sim, estudei sobre a cultura, comprei guias de viagem, assisti filmes Bollywoodianos, conversei com pessoas que já haviam visitado o país, mas mesmo assim, me surpreendi quando pisei em terras indianas.


O cheiro de curry e incenso se confundem com o do lixo, os inúmeros rickshaws se misturam aos pedestres e vacas, o som da buzina incessante com a voz dos fiéis muçulmanos, os deuses hindus dividem a atenção com famosas marcas ocidentais, os livros de kama sutra não combinam com as mulheres de burca e sari...


Este país de tradições e contradições me atraiu, justamente, por ser assim. Depois de morar nos EUA, Europa, Canada e mochilar pela América Latina chegou a vez de conhecer a realidade na Ásia. Nos próximos 12 meses escreverei histórias, apuros e maluquices de uma brasileira na Índia.


O vídeo abaixo é apenas uma prévia do que nos aguarda!