Fazia quatro horas que o avião da cia aérea South African havia partido de Joanesburgo com destino a Mumbai. Eu não conseguia dormir. Estava sentada próxima da janela e meu olhar oscilava entre o céu estrelado e a série “Lie to me”. A verdade é que eu não prestava atenção em nenhum dos dois. Minha mente estava no Brasil e em tudo que eu havia renunciado para passar meus próximos meses na Índia: abandonei meu emprego, tranquei meu curso de jornalismo, me despedi dos meus amigos e mais uma vez ficaria longe da minha família. E tudo por quê? Era o que eu tentava me lembrar naquele instante nostálgico...
O voo estava repleto de mulheres. Como elas eram diferentes. Provavelmente, elas pensavam o mesmo de mim. Algumas vestiam seus saris e piercings no nariz, outras preferiam jeans e bata. Ambas tinham um olhar sereno e curioso. E independente da roupa escolhida, todas estavam acompanhadas por seus homens. Elas me olhavam e comentavam qualquer coisa aos seus companheiros em uma língua que eu não compreendia. Era óbvio pra eles que eu não era indiana
As comissarias perguntavam “Veg food or non veg food?” (Comida vegetariana ou não vegetariana) e a maior parte dos passageiros optava pela primeira. Eu não. Comi arroz e frango ao molho curry. Não sabia qual a próxima vez que comeria “carne”. Antes de fazer meu pedido, porém, as refeições acabaram. A comissária pediu licença e foi até a cozinha repor os recipientes para terminar de servir os viajantes.
A senhora ao meu lado havia feito sua escolha: lasanha vegetariana. Antes de dar a primeira garfada, no entanto, sorriu e me perguntou “Do you want my food, my friend?” (Você quer minha comida, minha amiga?) Eu, ainda impressionada com a gentileza, apenas recusei, agradeci e retribui o sorriso.
Atitudes assim não são exceções na Índia. Há varios que tentam tirar vantagem, como em qualquer lugar. Mas há muitos que se mostram solícitos. Seja para dar uma informação na rua, pra te contar alguma história hindu ou perguntar seu nome para te saudar todas as manhãs.
Sim, os ratos ainda me assustam. Mas percebi que estes mesmos animais que me matam de medo são os únicos “brinquedos” que algumas crianças têm. O nojo que eu tinha de ver pessoas defecando na rua, me impedia de enxergar que elas não fazem isso apenas por não terem higine, mas se sujeitam, principalmente, por não terem um lugar decente pra morar.
É mesquinho ter ânsia de um lugar sujo, mas que eu estou por opção e não por obrigação. E os indianos que não tiveram este direito de escolha? Será que escolheriam que seus filhos brincassem ao lado de ratos, corvos e baratas?
Parece que, finalmente, eu comecei, mais do que abrir a mente, a abrir meu coração para aprender, aproveitar e me apaixonar pela Índia...
Bibi´s calma minha amiga ....tudo vai se resolvendo ... bjusss... te amooo =]
ResponderExcluirBia, vc é um ser humano excepcional! Parabéns!
ResponderExcluirDe vdd??? Eu arrepiei depois que li seu post...Mta boa sorte pra vc ai...bjs
ResponderExcluirAmei seu post!!
ResponderExcluir