sexta-feira, 23 de março de 2012

Coisas que você perde e ganha vivendo no exterior

Faz exatamente 6 meses que eu estou na Índia. É engraçado pensar como em tão pouco tempo é possível viver tantas experiências novas, ter tantos sentimentos intensos e aprender tanto com o diferente. Nestes últimos meses aprendi, principalmente, a me desapegar de coisas, pessoas, manias e opiniões formadas. Perdi e ganhei na mesma intensidade, mas em ambos os casos cresci. Contei com a minha intuição e por algum motivo, que muitas vezes nem eu consigo explicar com precisão, me lembro apenas de que decidi abandonar minha zona de conforto e encarar o desconhecido. Mesmo que para muitos, isto não fizesse o menor sentido.


Resolvi ( mais uma vez) ficar longe da minha família e percebi que se desapegar da presença deles, não é sinônimo de que eu preciso abandonar os meus valores. Mas significa sim abrir mão de estar junto no Natal, no Ano Novo Novo, na formatura do seu irmão mais novo ou no aniversário dos seus pais. É pedir demissão do seu trabalho e abrir mão de uma viagem à Nova York paga pela sua própria empresa, fruto do reconhecimento de todo esforço que você teve. É deixar seu apartamento que você compartilhava com suas melhores amigas, abandonar seu quarto individual e sua confortável cama king size. É trancar sua faculdade e “adiar” por 1 ano se graduar na profissão que você sempre sonhou em exercer.


É deixar de comer carne vermelha todo dia e sushi toda semana, mesmo que eles sejam seus pratos favoritos. É não poder voltar pra sua cidade natal aos fins de semana e não estar perto de quem você ama e de quem te ama. Mas também é saber reconhecer que você sente saudade e que agora você os valoriza ainda mais. É ficar com medo de que algo ruim aconteça enquanto você esteja longe, de comemorar vitórias a distância, de chorar ao telefone quando tudo parece perdido e ser consolada por aqueles que sempre estiveram ao seu lado e que agora estão do outro lado do mundo.


Ao mesmo tempo é ter orgulho de falar que você é trainee de uma multinacional no exterior. E mais do que se desenvolver profissionalmente, é sentir que seu caráter, sua maturidade e sua flexibilidade também estão se desenvolvendo. É provar todo dia uma comida nova, sentir falta dos pratos que sua mãe cozinhava, mas aprender que o diferente também pode ser muito bom. É ouvir todo dia uma língua que você ainda não entende, mas que você já sabe se virar. É conseguir perder 9 kg em apenas um semestre, porque você finalmente aprendeu a levar a sério exercícios físicos. É conhecer amigos de todas as partes do globo, aprender a respeitá-los, amá-los e ajudá-los, e acima de tudo, ser madura o suficiente pra entender que uma hora a gente tem que dizer “adeus”. Mas eu ainda prefiro acreditar que é apenas um “até logo”.


É poder realizar seus sonhos de infância. É andar de elefante, mergulhar nas águas quentes da Thailândia, abraçar um tigre, aprender yoga, ver de pertinho um encantador de cobras. É visitar o Taj Mahal! É você fazer coisas (e ser paga por isso) que também nunca havia sonhado. De repente você vira ringue girl, dubladora de filme, recepcionista de Bollywood ou até mesmo personagem da Disney em uma festa infantil. É trabalhar em um casamento luxuoso no fim de semana e ser parada pela criança com fome na estação de trem. É aprender que o ser humano é tão diferente e tão igual, tão maravilhoso e tão horrível. É sentir que você pode e deve tentar mudar o que não te deixa dormir em paz. É aprender a ter compaixão pelo outro, pelo mundo e por você mesmo. E perceber que mais do que conhecer lugares diferentes, viajar é se conhecer melhor, se amar e (re)aprender como é se apaixonar por outra pessoa...


É acima de tudo ter coragem de seguir seu coração e seus instintos. Como Steve Jobs acreditava “Você não consegue ligar os pontos olhando pra frente; você só consegue ligá-los olhando pra trás. Então você tem que confiar que os pontos se ligarão algum dia no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto, destino, vida, karma, o que for. Esta abordagem nunca me desapontou, e fez toda diferença na minha vida.” E é justamente isto que me motiva. De alguma forma, eu também sei que essa experiência vai fazer toda a diferença na minha vida. Ah, vai! Porque já começou a fazer e eu ainda tenho mais 6 meses aqui...